quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

decupagem

Acordo.
Penso em sair da cama.
Desisto.
Lembro da aula. O trânsito até o Itaim.
Desisto.
Durmo mais um pouco.
Sonho com uma piscina rasa.
Policiais.
E lobos.
Desta vez levanto.
Tomo café preto com adoçante.
Lembro das reportagens sobre aspartame.
Estico os lençóis.
Sinto cheiro de alecrim.
Ácido láctico.
E o forno a lenha na pizzaria da frente.
Ligo o computador.
Tomo banho.
Sinto fome.
Ligo no banco.
Desisto.
Ligo de novo. Pago o aluguel.
Pergunto sobre o sorteio de vinte mil.
Não ganhei.
Lembro da peça para produzir. Almoço.
Compro um biquíni de bolinhas brancas.
Converso com a atendente sobre estampas.
Lembro do delegado.
Ligo para o delegado.
Respondo telefonemas. Pego trânsito. Tenho muito sono.
Arrasto até a lavanderia.
Volto para casa. Tento dormir. O telefone toca.
Desisto.
Decoro um pedaço do texto.
O sono não passa.
Lavo o rosto.
Penso na peça para produzir. No pêlo do gato que cai no tapete.
Empilho jornais.
Penteio o gato.
Começo a ler as notícias de anteontem.
Largo as notícias.
Olho no espelho.
Separo as contas de luz das de gás. Fico feliz.
Sonho com um lugar morno, macio, fresco nas extremidades.
Uma duna.
A polícia chega para me buscar.
Imagino a vizinha na janela. Eu na viatura.
Chego na delegacia. Olho fotos. Suspeitos.
Sitiada de dúvidas.
Canso.
Trânsito.
Tenho fome de novo.
Sempre tenho fome de novo.
Como. Bebo. Como. Paro.
Coloco os cotovelos na mesa.
As mãos na testa.
Os dedos nos olhos.
Fecho.
Abro os olhos.
Falo alguma coisa.
Sobre a mesma coisa.
Desisto.
Vejo uma estrada no final da rua.
Corro.
Entro no carro.
Tiro os sapatos. Dirijo com as solas no pedal. Beijo ele.
Olho insetos na luz do poste antes do dia clarear.

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