quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ternura pelos homens na academia


Ternura pelos homens na academia. Não de letras. De ferros. Os homens com suas cores neon, seus bíceps, tríceps, psoas. Os homens que batem as mãos uns nos ombros dos outros saudando músculos, ossos, força. Consumindo e falando proteínas. Ternura por esses homens tão doces em sua boçalidade, tão honestos em suas vontades. Parecem viver no intervalo entre uma coisa e outra, no recreio da vida adulta. Os homens que se divertem entre si numa espécie de confraria da qual nunca farei parte no canto mais à esquerda do salão. Perto dos halteres, das rodas de metal. Passo por eles como quem caminha na parte mais densa da selva: as conversas entrecortadas pelos exercícios, a camaradagem, tatuagens desbotadas e esdrúxulas, os pinos, clavículas e uma cartilagem mais desgastada no joelho direito. E como se roubasse o ar alheio, inspiro por um instante a alegria que paira entre suas cabeças antes de voltar para minhas obrigações. Abaixo o rosto no bebedouro de metal e sorrio. Se eles não fossem tão ternos, tão bobos, simples e adoráveis, eu morreria de inveja.